Publicado em: 01/10/2021
Psicólogo falou sobre a prevenção do suicídio e advogada
abordou as dificuldades em conseguir benefícios previdenciários para pessoas
com depressão
O evento “Saúde mental, um direito de todos(as)!”
movimentou o auditório da sede da OAB Cascavel na noite da última quinta-feira
(30). A iniciativa da Comissão de Diversidade Sexual e Gênero, em parceria com
a ONG Acolher, proporcionou ao público reflexões importantes sobre a prevenção
do suicídio, tema que é amplamente trabalhado nesse período por conta da
campanha de conscientização “Setembro Amarelo”. No encontro mediado por Márcia
Leite, presidente da ONG Acolher e Bruno Pacagnan, advogado e psicólogo, os participantes acompanharam duas palestras e
uma performance.
O
psicólogo Júlio Parzianello falou sobre “Suicídio e
esperança” e apresentou dados sobre o tema. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 800 mil
pessoas morrem por suicídio por ano, sendo essa a segunda principal causa de
morte entre jovens de 15 a 29 anos, ficando atrás apenas dos acidentes de
trânsito. No Brasil, são 13 mil suicídios todos os anos, 96% deles relacionados
a transtornos mentais, depressão,
bipolaridade e dependência química. “Avaliando as estatísticas, homossexuais
tem maior incidência de suicídio do que heterossexuais. E é preciso chamar a
atenção para alguns casos em particular. Mesmo aquelas pessoas que
aparentemente estão bem, lá no fundo podem ter uma dor, uma angústia, uma
tristeza que não vai embora. Nem todas as pessoas depressivas vão ficar no
quarto, no escuro, sem querer sair da cama. A maioria delas vai ao trabalho, se
relaciona, vive o cotidiano, mas tem algo dentro delas que não é resolvido e
isso vai levando elas para baixo. São os chamados depressivos funcionais, que podem
ficar assim por meses, anos, mas por conseguirem levar a vida, não se percebem
depressivos e as pessoas ao redor também não os percebem como depressivos. Até
algum evento estressante acontecer: a perda de um familiar, um divórcio, uma
dificuldade financeira, a perda de um emprego, e aí o suicídio pode aparecer
como uma ideia”, alertou o psicólogo.
O profissional também citou
uma sigla que deve ser seguida como um conselho para aqueles que desejam ajudar
alguém que está passando por um quadro depressivo. “Neury Botega que é um
especialista na área criou a sigla ROC.
‘R’ de ‘riscos’, significa estar atento aos riscos, notar as mudanças de humor,
de comportamento, notar quando há algo de diferente na pessoa. ‘O’ de ‘ouvir’,
significa ouvir a dor do outro, emprestar os ouvidos para acolher alguém, se interessar, tirar um tempo para ela, mandar
uma mensagem... E ‘C’ de ‘conduzir’, levar essa pessoa para ajuda
especializada, psicólogo ou psiquiatra, não só indicar uma consulta, mas se
precisar agendar a sessão e ir com ela, fazer isso!”, explicou Júlio.
A segunda palestra da noite
foi comandada pela advogada especialista em Direito Previdenciário, Eliane
Deola, que falou sobre "Transtornos psicológicos e os benefícios
previdenciários". “É uma dificuldade muito grande conseguir um benefício
pelo INSS para uma pessoa com depressão. Geralmente
os profissionais de saúde que acompanham a pessoa se recusam a dar esse tipo de
laudo. Nos deparamos todos os dias com esse tipo de situação. Na maioria dos
casos, temos que mandar uma carta para o médico, explicar a situação, a
dificuldade em conseguir o benefício. Às vezes, o especialista já acompanha
esse paciente com transtorno há um, dois, três anos, mas quem vai tomar a
decisão é um clínico geral do INSS que leva em consideração apenas que o
paciente chegou andando, limpo, bem vestido e julga que 30 dias de afastamento
resolvem. Sem contar que quando a pessoa procura o INSS, já chega sofrendo
preconceito, sendo discriminada, como se a causa dela fosse frescura”, detalhou
a advogada.
O encerramento foi conduzido
com uma performance de Desirée. Como ingresso, os participantes doaram produtos
de limpeza e alimentos não perecíveis que serão destinados aos amparados pela
ONG Acolher de Cascavel, que existe desde 2015 e tem o objetivo de garantir
igualdade de direitos, acesso à informação e a promoção da qualidade de
vida para a população LGBTQIAP+ e familiares, além de pessoas vivendo e
convivendo com HIV/ AIDS.
